faltam 6 dias para estrear

primeiro ensaio cénico em palco com projecções: a coisa funciona! sentado na plateia do grande auditório saboreio esse prazer raro de ter esta grande sala como tela. não há satisfação comparável numa folha de papel ou numa tela. esculpir imagens no tempo e no espaço com personagens musicais de carne e osso é outro assunto.

dispor do tempo e recursos para fazer isto é um previlégio, sim senho. hoje sinto que este momento é para ser saboreado – daqui a 8 dias tudo se vai ter desvanecido.

faltam 7 dias para estrear

falta uma semana: estamos no palco. a  instalação dos projectores vídeo “so far so good”. sinto os meus desenhos do storyboard a ganharem vida.

instalei-me com a orquestra no fosso: é um sensação bestial estar aqui a sentir todas as vibrações dos instrumentos. é como se a ópera estivesse a passar de três dimensões para quatro.

faltam 8 dias para estrear

os últimos ensaios fora de palco. ansiosos e necessitados de entrar no grande auditório. a luz está instalada, o vídeo é amanhã. chegou o momento da minha ansiedade: existem SEMPRE problemas na instalação dos projectores ( a potência não chega, a distância não dá, a lente não serve, etc, etc). será que desta vez vai ser a excepção?

hoje os cantores começaram a dar gás nas àrias. foi terrífico. por vezes as lágrimas vieram-me aos olhos – se calhar sou um sentimentalão, eu sei, mas a verdade é que ouvir aquelas vozes esta a ser uma experiência do sublime.

faltam 9 dias para estrear

hoje tive mais descobertas, algumas garagalhadas, flashes de apreensão. as introduções das àreas parecem agora momentos óbvios para alguma soltura pictórica.

começou também a montagem de luz no palco (tão grande! visto de dentro)

faltam 10 dias para estrear

até onde devo planear os meus desenhos nesta ópera? a tentação de ter tudo ensaiado é grande, porque oferece segurança numa performance tão rigorosa como a partitura.

mas aprendi durante os ensaios que a música barroca é das menos “escritas” ou seja, deixando muito para o intérprete improvisar ou “interpretar”. não é isso que eu devo fazer também?

faltam 11 dias para estrear

o tempo entrou em aceleração contínua. vamos modelando os resultados. a ópera começa a ganhar uma forma. o cansaço nas vozes, nos olhos, também.

faltam 12 dias para estrear

primeiro ensaio corrido de todos os recitativos para cantores, baixo contínuo e maquete. soube bem poder sentir o fluxo narrativo da ópera, com o Carlos a controlar as movimentações de entrada e saída de personagens. deu também para peceber os locais onde o meu trabalho está mais frágil e a precisar de mais ideias.

a equipe está em alta.

faltam 13 dias para estrear

finalmente mãos na massa. à euforia das descobertas de coisas sucede-se a frustração de não encontrar criatividade noutras. é a montanha russa criativa!

a tensão aumenta (o tempo está a ficar curto). “elegance under pressure” precisa-se:  repito de mim para mim.

faltam 14 dias para estrear

chegou Michael Spyres, o tenor que faltava ao naipe, e de repente ficámos suspensos, inspirados e maravilhados.

tudo parece fazer um novo sentido agora. os ensaios cénicos começam a parecer-se com alguma coisa, a equipa começa a ganhar cumplicidades.

falam-se várias línguas ao mesmo tempo – português, inglês, italiano, francês, espanhol – mas o ambiente está a aquecer.

faltam 15 dias para estrear

um dia confuso, cheio de variadas solicitações impedem-me de me concentrar no trabalho: uma conferência de imprensa de manhã, a montagem de uma pequena exposição e  apresentação de livro à tarde.

é desesperante como as solicitações da imprensa vêm justamente na altura em que mais nos temos de concentrar no trabalho em cena.

faltam 16 dias para estrear

mais apresentação do projecto aos novos cantores, mais maquete, mais storyboard, mais ensaios de recitativos, mais preparação de conferência de imprensa e finalmente! uma hora e meia para projectar algumas imagens e trabalhar movimentações com os cantores.

tantos preliminares e parece que nunca mais pomos as mãos na massa!

faltam 17 dias para estrear

primeiros ensaios de árias e recitativos com os cantores. é incrível como as vozes tiram as notas do papel para as transformar em emoções. tempo também de conhecer mais 2 cantores (Geraldine McGreevy e Maria Hinojosa) e começar a entender a escolha do naipe, as diferenças de timbre, interpretação, força. tempo de perceber a visão que o maestro Enrico tem da obra nos seus mais pequenos detalhes. alguns recitativos já me dão ganas de criar imagens/sons. mas por enquanto é apenas tempo de ouvir, não de desenhar.

faltam 18 dias para estrear

primeiro encontro com metade do elenco ( cantores Ana Quintans, Martin Oro e Pamela Lucciarini).
eu e o Carlos Pimenta tentámos explicar com a nossa maquete e storyboard aquilo que se vai passar visualmente.
“very promissing” comentou um deles no final.
mas a verdade é que, ao ver o Carlos a transportar as figurinhas para cá e para lá, não pude deixar de pensar que o que nos espera é bem mais que cartão.