agora que a festa acabou (por agora)

as duas récitas da ópera ANTÍGONO foram momentos de muita intensidade com o coração a correr depressa, a garganta apertada de emoções, e a contemplação do sublime. agora que tudo se desvanece, examino as marcas que me ficaram no corpo:

//é nestes breves momentos de excepção que percebo porque é que temos o melhor trabalho do mundo (ser artistas): todas as frustrações da vida corrente, as lutas, as angústias, os egos embrulhados se desatam para dar lugar à paixão em estado concentrado.

//são grandes as coisas que podemos fazer quando somos muitos: talentosos, rigorosos, apaixonados e solidários.

//precisamos de beleza, do sublime: no meio dos nossos dias tão herdeiros de niilismo e destruição (no que à arte diz respeito) é inspirador olhar para a música barroca e deixar-me arrebatar pela construção do prazer, da inteligência e da emoção.

//no meio da desinspiração geral que reina, ateada pelo espírito merceeiro da nossa imprensa, é muito bom poder vislumbrar as MUITAS pessoas que neste país querem, podem e fazem coisas muito bem feitas.

agora, volto à minha vida normal (com um sorriso nos lábios)